O MPF (Ministério Público Federal) informou que o TRF-1 (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região suspendeu liminarmente as obras de transposição do rio São Francisco. Em nota, a Procuradoria informa que há três problemas no projeto.
Entre os problemas apontados pela Prouradoria estariam a violação do plano de recursos hídricos, dos princípios da gestão descentralizada da água e da participação popular e o fato do aporte hídrico pleiteado para a transposição ser alvo de um procedimento administrativo no Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Procurada pela reportagem, o Ministério da Integração Nacional informou que se manifestaria mais tarde sobre a decisão.
Greve de fome
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, está em greve de fome há 14 dias contra a transposição das águas do rio São Francisco. Ele apoiou as manifestações promovidas ontem por MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Via Campesina.
Dom Luiz afirmou ainda que o governo federal "fez calar as forças sociais" e tornou-se "refém dos grandes".
Para o bispo, que jejua na igreja de São Francisco, em Sobradinho (540 km de Salvador), mobilizações como a de ontem "são importantes para a redescoberta de identidades pelos próprios movimentos sociais".
Dom Luiz recebeu ontem a visita do dirigente nacional do MST João Paulo Rodrigues. O líder sem-terra anunciou a adesão do movimento à campanha contra a transposição.
"O MST entra agora com toda sua força política nessa luta", afirmou Rodrigues. "Entre Lula e o bispo, ficamos com o bispo. Não queira Lula fazer o teste", declarou. "A partir de agora, vamos iniciar a luta contra as empresas transnacionais e em defesa do rio São Francisco. A briga vai ser boa."
A estratégia do MST é nacionalizar o tema e desenvolver atividades, principalmente no Rio de Janeiro, envolvendo intelectuais e artistas. Em São Paulo, o movimento planeja realizar amanhã um ato público na praça da Sé.
Obras
A transposição --ou, como é chamada pelo governo, Projeto São Francisco-- é a maior obra anunciada pelo governo Lula desde o primeiro mandato e foi uma das contempladas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Estimada em R$ 4,5 bilhões, até 2010, as obras serão dividas em 14 lotes. Somente neste ano, serão investidos R$ 483 milhões, além de R$ 247 milhões, que serão utilizados em projetos de revitalização, como tratamento de esgoto de municípios próximos ao rio, replantio de matas e recuperação de nascentes, em Minas Gerais, Estado que responde por aproximadamente 70% das afluências do rio
O projeto de transposição divide a região Nordeste. Bahia, Sergipe, Alagoas e Minas Gerais --Estados que são chamados de "doadores" das águas do rio-- são contrários às obras. Por outro lado, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará --que serão receptores das águas transpostas-- defendem a liberação da licença ambiental para que o projeto tenha início.
O rio São Francisco nasce em Minas Gerais e cruza o Nordeste pelos Estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. Pelo projeto de transposição, canais a serem construídos levariam água para o interior de Pernambuco, para o Ceará, para a Paraíba e para o Rio Grande do Norte.
Com Agência Folha
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u353812.shtml
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